quinta-feira, 10 de março de 2016

Daniel e Mia, Danielle Quartezani

A primeira dose foi pra dizer a mim mesma que eu estou fazendo a coisa certa saindo em uma sexta-feira à noite sem você. A segunda foi para me dar à segurança que a primeira não me deu. A terceira foi para esquecer que estar exibindo esse vestido aqui talvez seja a pior burrada que eu já tenha feito. A quarta foi para ter coragem de sair do bar, pegar o carro e parar no estacionamento do seu condomínio sem ter a menor ideia do que quero te dizer.
É só que… Eu sou acidente de trânsito humano. Eu não sei lidar com isso de ser a única coisa do mundo de alguém e é exatamente assim que você me olha. Antes de ontem foi como ter tirado a roupa para você pela primeira vez de novo. Você me beijou com os olhos, com a boca, tocou cada linha fina do meu corpo, me paralisando de tal forma que eu só conseguir te tocar de volta no momento que eu deveria estar correndo.
E, se eu soubesse que aquela conversa casual, em plena quarta-feira iria nos levar a sentar um do lado do outro no cinema, provavelmente eu teria escolhido outra poltrona, ido numa sexta e te daria meu número errado. Eu teria seguido o conselho da minha mãe de não conversar com estranhos e de forma alguma teria atendido a sua ligação para sair no sábado.
Mas eu atendi. Comi sushi, joguei conversa fora e quando vi, já tinha dito sim para o seu pedido inofensivo de nos encontramos mais uma vez. Eu fui ao aniversario de seis anos da sua sobrinha, te deixei tomar o celular da minha mão para informar aos meus pais que estávamos namorando e concordei com a sua ideia de viajarmos juntos para a praia da cidade vizinha.
Eu deveria ter notado. A nossa primeira briga, se é que posso chama-la assim, você diante de todos os meus gritos, boca suja, cacetes e caralhos, disse simplesmente “a sua boca fica tão linda quando fala porra” e eu desfaleci em uma risada estúpida que não pude evitar. Pior do que isso, foi perceber que meu riso era muito mais bonito quando eu estava contigo. Isso lhe soa egoísta? O mundo realmente ficava mais bonito quando eu sorria para você.
E foi por todos esses sinais, por todas as vezes que eu deveria ter corrido e fiquei parada que você se sentiu seguro para achar que um ano depois (e quem é que pode te culpar?) eu estava preparada para te ouvir interromper a nossa conversa casual com um “eu amo você, sabia? Eu amo você”.
Fico pensando o que se passou na sua cabeça naqueles dois minutos.  Se eu responderia de volta, te beijaria ou, no pior dos cenários, ficaria calada. Mas nunca, imagino eu, você pensou que da minha boca sairia um “eu tenho que ir”  atropelado, que eu não te ligaria de volta e dois dias depois,  estaria bebendo no nosso bar  mesmo que o queira de verdade é bater na porta da sua casa.
E, se quer saber, a verdade dessa história toda é que eu sinto muito.
Não por estar bebendo, por estar usando o seu vestido, ou por não sentir nada. Porque a verdade, é que eu sinto demais. Sinto tanto, mas tanto, que estou aqui com as mãos suadas grudadas no volante, tentando achar um jeito de te explicar que o meu medo de estragar tudo acaba estragando o que eu tenho de melhor.
Eu quero achar um jeito de te dizer que eu nunca disse eu te amo de volta para ninguém, até porque até hoje eu só tinha gostado muito – e convenhamos, gostar muito é bem mais fácil de se dizer -, tenho medo de parar na porta da sua casa as duas da manhã e te explicar que a verdade é que eu estava perdida entre uma dança e outra, tentando entender porque eu não disse o que eu deveria ter dito, o que eu queria falar e o que eu ainda quero te dizer.
Por que a verdade é que porra, eu amo você.

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